Aliviando a bagagem – quando deletar é preciso

Um incômodo, que não se identifica de onde vem. Uma sensação de ter esquecido algo ou de que não está dando tempo pra resolver tudo, ler tudo, atender a todos. Dizer não? – o mínimo possível! Surge o coelho da Alice, correndo, relógio em mãos: “é tarde, é tarde, é muito tarde!”. Bate (ou aumenta) a tal da ansiedade: que prioridade dar a cada assunto/pessoa? O que eu não preciso dar conta e coloquei no automático dos casos “necessários”? Por que eu preciso sofrer com o caso da prima da amiga da minha tia e tentar arrumar uma solução pra ela? Cansa.

Sabe o que pode ser? Você está levando bagagem demais!

Ao viajar, muitas vezes colocamos mais roupas, sapatos e apetrechos do que iremos precisar. Mas o “vai que eu preciso; que alguém precisa” aumenta – e muito –, o peso. Acontece o mesmo com a nossa bagagem de vida. Tomamos como nossos assuntos dos quais nem precisaríamos nos envolver; planejamos resolver situações que consideramos urgentes, mas que tampouco estão na agenda; preparamos atividades sem necessidade e nos sentimos responsáveis ou nos preocupamos com pessoas cujas vidas pertencem a si mesmas ou a outros. Pra diminuir o peso dessa bagagem é preciso um minucioso (e corajoso) exame. Até porque frequentemente existe apego. E aí, tirar da “mala” fica mais complicado.

Agora, trazendo para esses tempos de Covid-19. O que já tínhamos de compromissos e informações em nossas vidas, a quarentena nos trouxe uma enxurrada de incumbências. Algumas realmente imperativas, incluindo cuidar da proteção física e mental, as suas aulas e as dos filhos; a lista do mercado atrelada às medidas de higienização pra ir e voltar sem o perigo invisível. Mas, não, não precisamos ser PHD em infectologia se não somos da área.

Fora do âmbito do vírus, mas por conta da quarentena, surgiram as mil e uma lives sobre vários assuntos interessantes. E o estímulo a novos projetos: cursos online; receitas pra fazer e engordar; leitura de livros finalmente iniciada; aulas de meditação, yoga e malhação. Em que ponto você está?

Se já era importante fazer um detox de informações, de promessas e de compromissos não tão agradáveis, imagine agora. Mas, para isso, seria bom dar um mergulho em si para examinar cuidadosamente o que se pode ou quer “faxinar”. Às vezes, por trás dessa limpeza há alguém a perdoar, nem que seja a você mesmo. Podem ser memórias recorrentes de momentos tristes, as quais você sempre traz para o presente. Seria a hora de considerar o momento certo para buscar um tratamento psicoterápico e/ou psiquiátrico? Isso não desonra ninguém. Pelo contrário: é preciso ter muita coragem para se ver, se autoconhecer; mexer no que, até algum tempo atrás, era imexível. E aliviar a própria bagagem pra viver de forma plena.

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